As gigantes tecnológicas destacaram-se pela negativa em bolsa no início desta semana. Philippe Schneider, da DHF Capital, diz ao Jornal Económico que as desvalorizações vão continuar “se sentimento de risk-off continuar a pesar no mercado”.
Big Tech, Big Disappointment. As gigantes tecnológicas norte-americanas tiveram uma segunda-feira negativa em bolsa, depois de uma sexta-feira também desanimadora em Wall Street. A semana seria para sobressair a pós-divulgação de resultados, mas os investidores mostraram claramente que esperavam mais, apesar das subidas expressivas nos lucros.
As Sete Magníficas – Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla – perderam aproximadamente 900 mil milhões de dólares (821 mil milhões de euros) em valor de mercado, de acordo com a “Reuters“.
“O grupo Magnificent Seven sofreu hoje um declínio significativo, juntamente com o resto mercado, com uma perda combinada de centenas de milhares de milhões em valor de mercado. Esta recessão foi desencadeada por um relatório fraco sobre o emprego na sexta-feira e pela redução da atividade industrial na maior economia do mundo, alimentando preocupações sobre a economia dos Estados Unidos e a probabilidade de uma recessão”, explica ao Jornal Económico (JE) o responsável global de vendas da DHF Capital.
Philippe Schneider destaca ainda as “preocupações” em torno das “despesas elevadas com IA e a desaceleração do crescimento em áreas-chave”, apesar dos resultados líquidos positivos. “A Apple, em particular, esteve sob maior pressão depois da decisão da Berkshire Hathaway de reduzir para metade a sua participação na empresa, sugerindo que investidores proeminentes poderiam estar a abandonar o sector. Estes fattores contribuíram para um sell-off agressivo, que poderá expandir-se se o atual sentimento de risk-off continuar a pesar no mercado”, esclarece ao JE.
A bolsa de Nova Iorque abriu e fechou no encarnado com o índice tecnológico a desvalorizar mais de 5%. Por volta das 16h15 (hora de Lisboa), estas eram as quedas das Sete Magníficas: Alphabet (-1,46%), Amazon (-3,40%), Apple (-3,36%), Meta (-3,39%), Nvidia (-6,63%) e Tesla (-3,47%). Os títulos da fabricante de chips, a empresa mais valiosa do mundo, chegaram a tombar 11%.
Ceticismo sobre a “moda” da IA O sell-off está a levantar cada vez mais preocupações sobre uma eventual bolha da Inteligência Artificial (IA) rebentar. Aliás, no final da semana até o hedge fund Elliott Management, que gere cerca de 70 mil milhões em ativos, alertou que os clientes a Nvidia está numa “bolha” e que o hype em torno da tecnologia, que tem feito subir o preço das ações da empresa, é “exagerado”.
Numa mensagem enviada aos investidores e consultada pelo “Financial Times”, o fundo mostrava-se “cético” que as gigantes tecnológicas continuassem a comprar placas gráficas da Nvidia em volumes tão elevados, até porque há aplicações de IA que “não estão prontas para o horário nobre”. Parte das dúvidas em torno desta ideia serão tiradas apenas a 28 de agosto, quando a Nvidia divulgar contas.
Quanto às restantes magnificent, reportaram lucros em linha ou acima do esperado, mas guidances para o próximo trimestre abaixo das previsões. Citando a Bloomberg, “a Amazon, a Microsoft e a Alphabet tinham uma tarefa nesta época de resultados: mostrar que os milhares de milhões de dólares que cada uma investiu na infraestrutura que impulsiona o boom da IA estão a traduzir-se em vendas reais”. Certo esse que esse one job they had parece não ter sido cumprido, a avaliar pelas desvalorizações.
Min Lan Tan, diretor do gabinete de Investimentos da Ásia-Pacífico do UBS Global Wealth, mostra-se mais otimista, segundo a publicação norte-americana “Barron’s“: “Provavelmente, demorará algum tempo até que as empresas demonstrem que podem obter um retorno dos seus investimentos em IA, mas não há indicações de que as empresas estejam a desistir destes planos de investimento, dada a promessa da tecnologia”.
Warren Buffett desfaz-se de metade do investimento na Apple A publicação do relatório e contas da Berkshire Hathaway, no sábado, foi um sinal do agravamento do momentum nas tecnológicas. Porquê? A empresa de Warren Buffett informou que reduziu a sua participação na Apple em quase 50%, de 174,3 mil milhões de dólares (158,8 mil milhões de euros) no final do ano passado para 84,2 mil milhões de dólares (76,7 mil milhões de euros) a 30 de junho de 2024.
O ânimo perante um trimestre recorde para marca da maçã mordida durou apenas dois dias. “Apesar de a fabricante do iPhone continuar a ser a cotada com maior peso na carteira da firma de Warren Buffett, a posição está agora avaliada em apenas 84,2 mil milhões de dólares. No segundo trimestre, a Berkshire vendeu mais de 75 mil milhões de dólares em ações, pelo que não foi apenas na Apple que reduziu”, explica Nuno Carregueiro, na research de mercado da BA&N.
Portanto, este é “um sinal de desconfiança de um dos investidores mais reputados do mundo numa altura em que os mercados acionistas estão a sofrer movimentos de correção agudos liderados pelas tecnológicas”, até porque, desde que começou a investir na Apple, em 2016, as ações da cotada dispararam 900%.
A amanhã de ontem foi tão negra que o VIX – CBOE Volatility Index da Chicago Board Options Exchange – atingiu máximos de quatro anos. O indicador que mede a volatilidade das bolsas chegou aos 65, quando na quinta-feira se encontrava apenas nos 17.
Quem também perdeu com este sell-off foram os bilionários por detrás das Big Tech. Segundo a tabela da revista “Forbes”, o presidente e cofundador da Amazon, Jeff Bezos, cujo cofre ficou com menos oito mil milhões de dólares, e o CEO da Nvidia, Jensen Huang, com menos 79 mil milhões de dólares, foram os maiores perdedores do dia.
Source: O Jornal Economico